sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

EXPERIÊNCIA RUIM

Então que até quarta-feira passada só flores, mas finalmente tive minha primeira experiência negativa aqui em Sydney.

Fui ao cinema assistir The Jane Austen Book Club (um dos filmes-mulherzinha mais fofos que já vi. Se Austen não é motivo suficiente pra vocês procurarem o filme, tentem ISSO). Cheguei no cinema, comprei meu ticket, e resolvi pegar uma coca-cola. Aqui as máquinas de refrigerante ficam à disposição do cliente: não é o empregado da lanchonete que te serve, mas você mesmo. Por isso, é normal que se ofereça o serviço de refil. Com isso em mente, sigam a história:

Na hora de me servir, acabei colocando gelo demais no copo, quase o copo inteiro. Eu poderia ter jogado tudo fora e recomeçado, mas pensei, né, sem problema, bebo um pouco do refrigerante e depois completo com mais, pra não ficar aguado. Paguei pela coca, fiquei por ali rondando, e, dez minutos antes do filme começar, e não tendo bebido nem metade do copo, fui lá. Só que, prevenida que sou, resolvi perguntar pro garoto que tinha me atendido se eu realmente podia fazer o que estava pretendendo.

Ele estava atendendo uma senhora, fiz a pergunta com meu inglês de sexta série, e qual não foi minha surpresa quando a senhora virou o rosto pro outro lado e começou a rir. Eles trocaram um olhar e, com ironia, o garoto perguntou what? Fui ficando nervosa, e meu inglês desapareceu. Tentei explicar pra ele que tinha colocado gelo demais, mas quem disse que eu me lembrava como se dizia gelo em inglês? Abri o copo e mostrei pra ele. O cara olha pra mim e diz, com toda a ironia do mundo: ice? Nisso a velha rindo, e eles trocando olhares.

Eu comecei a me sentir tão mal, mas tão mal, que disse that's ok, e fui pegando minhas coisas. Aí ele disse que eu podia colocar, mas dando um risinho torcido pra mulher, e como se aquilo fosse uma concessão. Sem graça até dizer chega, murmurei um sorry, it doesnt matter, thank you, e fui saindo. Ainda ouvi ele dizendo que eu podia ir lá, mas tudo o que eu queria era sair dali. Porque, tipos, eu não queria uma concessão, né, tinha pedido uma informação pra ele, era só dizer yes, madam, ou sorry, that's impossible, ou qualquer outra coisa que não ironia.

Tipos, será que eles estavam rindo porque não falo inglês? Por causa da minha pronúncia? Porque eu tava quebrando algum código social muito claro? Porque era óbvio que eu podia colocar mais refrigerante? Porque era óbvio que eu não podia? Será que eu tava com bafo?

Enfim, só sei que aqueles dois acabaram com meu dia. Sei que foi bobeira, mas, olha, que merda você se sentir impotente pra dar o troco, sabe, tipo perguntar vem cá, tô perdendo alguma coisa?, ou até fazer um barraco mesmo, porque na hora eu não tinha inglês pra nada disso - sabem como é, quando você só pensa na coisa certa pra dizer 30 minutos depois de não poder dizer mais nada?

...

Pior que Erick tinha me dado uma lista imensa de coisas pra comprar pra casa, em 3 lojas diferentes, e tudo o que eu conseguia pensar era meu deus, vou ter que passar por isso over and over and over again, e a vontade que deu foi de sair do cinema direto pro trem e ir pra casa chorar. Mas agüentei firme e entrei no shopping (tipos, vocês sabem, né, fazer compras é algo como receber um abraço gigante). E fui super bem tratada em todos os outros lugares que entrei.

...

Quando contei pra Erick o que tinha acontecido, ele ficou super irritado, quis voltar lá na mesma hora pra fazer uma reclamação com o gerente, mas eu não deixei. Detesto cenas - pra vocês me verem fazendo uma, olha, é porque me deixaram completamente fora de mim MESMO. E também porque acho que eu tenho que resolver esse problema sozinha, deixando pra lá, ou voltando pra fazer a tal reclamação.

O que vocês fariam no meu lugar?

17 comentários:

Galega disse...

entendam de uma vez por todas : NÃO HÁ LUGAR MELHOR DO QUE A NOSSA CASA!

isso é terra de doido caneca! eu lembro q nos usa eu (loira e gostosa desse jeito) era taxada como latina e mal respondiam minhas aflições linguisticas!

da próxima vez q vc for ao cinema leva o furador de gelo no melhor estilo instinto selvagem!

Marion disse...

Ana, que chato. Eu acho que ficaria arrasada como você. Mas que bom que nos outros lugares você foi muito bem tratada! Sinal que o que aconteceu foi azar, que vc deu a má sorte de se deparar com dois bestas que não tiveram a gentileza de ajudar uma estrangeira. Vida de estrageiro tem estas complicações, mas tem muita coisa também, veja quanta coisa legal você já passou por aí, né? Não deixa isso te abalar, tá?

Ah, ADOREI a sua MEGA-SUPER-HIPER visita ao meu blog! :D Adorei os comentários! :D Li TODOS! :)

beijão

Mimoo disse...

Ai Ana, q raiva heim...

Ahh... eu ja ia olhar pra mulher com cara de poucos amigos e: Excuse-me?

ela ia ficar sem graça..

Pode deixar ana, q vou ai junto com vc pra gente CHUTAR o traseiro daqueles dois mal educados.. grrr

Beijo, stay beautiful!!!

Renata disse...

deixa o erick reclamar sim, ana!

odeio isso. eles acham que sao melhores do que quem? falando ingles ou nao, quem e que esta la dando lucro pro cinema pagar o salario dele?

nao fica arrasada, que tem gente que acha que o lugar onde ela nasceu ou mora faz alguma diferenca. eu nao entendo.

eu nao falo nada de frances. so comida, hahahahaha. sei ler um cardapio do comeco ao fim. mas ao contrario do que me disseram que aconteceria aqui na franca, estou sendo muito bem tratada. eu tento falar frances, mas as pessoas logo percebem que eu nao falo e me perguntam se eu falo ingles.

outro dia fui a uma patisserie, queria um pain au chocolat, mas vi outra coisa que me interessava mais. falei "un... (e apontei) sil vous plait" e a moca logo entendeu que eu nao falava frances, me disse o preco em ingles.

ontem passei em frente a uma loja, TIVE que entrar pra experimentar um sapato. fiz a mesma coisa, apontei o numero e o modelo. ela falou "39 black?"

volta la e reclama pq o trabalho dele e te atender bem. e ri dele pq ele nao sabe falar portugues nem frances. palhacao!

kingthere disse...

Ana, eu não aceito que me tratem com menos respeito do que mereço. Na hora pediria gentilmente que o abusado chamasse o gerente e reclamaria do atendimento com toda educação. Isto, para mim, não é cena de jeito nenhum.

Abraço.

Reilla.

Ingrith disse...

Eu teria falado em bom português "vai tomar no seu c*, bando de filho da p***"

E sairia feliz e sorridente!!!!

Mas então eu deixava o Erick ir lá reclamar!

anouska disse...

amore, eu tenho vindo aqui com frequencia, mas nem sempre comento. só pra você saber, sou totalmente solidária a você. se fosse comigo, acho que também teria perdido o rebolado e ido para casa chorar. mesmo falando inglês e podendo mandar o cara se f* de ver e amarelo. mas a questão não é essa. estar num país estrangeiro sempre deixa a gente mais vulnerável, acredito eu. pelo menos EU me sinto assim. mas isso passa. daqui a pouco você começa a se sentir em casa e isso melhora. beijinhos e saudades!

Helen disse...

Como eu sou muito fina e brasileira, diria:

Sugar and old ladie from hell: Shove this ice up on your fucking asses!

E seria deportada, provavelmente, mas cheia de dignidade rsrsrsrs

Renata disse...

eu reclamaria da maneira mais diplomática possível.

nada mais constrangedor pra gente mal educada do que gente muito educada!

ele tinha obrigação de te atender bem, afinal ganha pra isso.

fabiana disse...

Detesto quando isso acontece! Fica triste, não... e reclama!

Ana disse...

Ril, gente escrota existe em tudo que é lugar. A diferença é que em português eu teria respondido à altura. Mas gostei da idéia do furador de gelo. ;)

Marion, pode deixar, já tô legal. Mas passei dois dias meio deprê, mesmo... Um beijo, linda!

Mi, vem sim, que na próxima vez a gente mostra praquele white trash!

Renatinha, eu geralmente me viro bem, naquele dia é que fiquei nervosa mesmo. E o Erick ligou pra lá pra reclamar, e eu vou no cinema na segunda, pra falar com a gerente.

King, quando a gente tá num ambiente em que se sente segura, é fácil fazer isso. Mas agora eu não vou mais ser pega de surpresa, e vou saber o que fazer.

Ingrith, rs, eu dificilmente faria isso. Especialmente sabendo que eles não iam entender nada. Se fosse pra mandar, mandaria em inglês mesmo! rs

Crisolda, vc sabe que eu estava super bem até esse episódio? Mas fiquei me sentindo exatamente como vc disse, tão vulnerável que começou a me dar saudade de casa, de vcs, de falar português na rua... Um beijo, amiga!

Helen, vou escrever essa frase e carregar comigo, podexá! rs

Rê, foi isso que o Erick fez. Agora vamos esperar o que diz a gerente.

Fabi, foi a primeira vez, e com certeza vou topar com o funcionário de novo. Mas ele não vai mais rir de mim não. beijo

Jackie Götzen disse...

Reclamava com o gerente!!!!! Sem sombra de dúvidas!!! Cara, quando estes poias vem pra cá, a gente trata eles como reis!!!! Não fode!!!! Tratar assim turista que tá gastanto money (muito pos sinal) no país deles???) Aborígenes FDPUTA!!!!!

Tô bem hoje não!!!!!

Nunca brinque com um Escorpião com Ascendênte em Áries!!!!

Andrea disse...

Eu xingava em favelês-carioca-português mesmo.

Alexandre Miranda disse...

Meu irmão passou 4 anos na parte francesa do Canadá, trabalhando e fazendo um mestrado em linguística, algo assim. Sei que até o 11 de setembro a convivência dele lá foi maravilhosa, somente flores, contudo, depois dos ataques, tudo ficou mais difícil. Todos olhavam para ele com cara ruim, principalmente porque ele puxou muito o meu avó, que era descendente de libaneses, aí, foi dureza para ele. Por muitas vezes deixaram de atendê-lo ou atenderam com muita má vontade. Mas o medo era reinante, o que não é o seu caso. De qualquer forma é uma experiência ruim.
bjs

Ana disse...

Jackie, acho que fiz o melhor que podia pra uma primeira experiência dessas: vim pra casa, deixei passar o mood, aí decidi reclamar e pedi pro Erick falar com o gerente (eu fiquei do lado ouvindo e corrigindo a história). Mas agora acho que vou ter sangue frio pra passar por isso numa próxima vez. O que me pegou foi a surpresa, sabe?

Battle, vc jamais faria isso, vc é uma leeeiiiiideeeeee.

Alexandre, foram casos diferentes, sim, mas é péssimo ser maltratado, qualquer que seja o caso, né.

Gileade disse...

Tem que voltar lá e reclamar com o gerente! Que falta de respeito! Carinha babaca!

Ana disse...

Já reclamei, Gile. Babaca, mesmo.