segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

RIDING THE HORSE - parte 1

Bom, gentem, finalmente estou com meu tecladinho brasileiro instalado, o que significa ter de volta uma ferramenta básica: acentos. Coisa mais angustiante, escrever sem agudos, circunflexos, cedilhas e afins.

E isso significa também que posso contar pra vocês como foi a viagem até o país de Oz (pra quem não sabe, os australianos têm um apelido carinhoso pra eles mesmos: aussies. E a pronúncia é igual ao nome daquele cantor bizarro, o Ozzie Osbourne). Let’s go.

...

Bom, tenho um amigo dos tempos de escola que mora na Austrália há uns 20 anos, e ele me convidou pra passar 3 meses na casa dele (coitado. Definitivamente, esse convite vai se transformar numa coisa semestral). No começo eu só pensava no medo, né: ficar sem trabalhar durante meses, com pouco dinheiro entrando (tenho a bolsa de doutorado, que aqui não é nada, mas que de qualquer forma já estaria mesmo em parte comprometida com minhas contas no Brasil), depender completamente de outro ser humano pra dormir numa cama e comer, fazer minha primeira viagem internacional, enfrentar meu medo de avião... enfim, muito motivo pra me apavorar. Mas me endividei pro resto do ano, consegui juntar uns poucos dólares, e a viagem foi marcada pra 30 de janeiro de 2008.

Foram meses esperando esse dia chegar, num misto de ansiedade, excitação, angústia, saudade antecipada e Cris marcando e desmarcando meu bolo de nutella de despedida. E aí chegou terça 29, véspera da viagem. E ainda nada de bolo de Nutella.

No dia da viagem eu tava tão excitada que nem comi nada. Meus pais, uma tia e uma amiga-irmã foram ao aeroporto comigo e 50 quilos de bagagem. Tava tranqüila com a viagem, mas chorei muito na hora de me despedir do meu cachorro. É engraçado que ele foi o único que me derrubou, mas é que eu sabia que ia poder ligar todo dia pros meus pais, e falar com os amigos por email; com Tum-Tum, silêncio por 3 meses. Cruel.

Já no aeroporto, comecei a me sentir mal, ansiedade e estômago vazio, e a hora de entrar no avião e sair do chão... Gente, isso não é um meio de transporte normal, certo? Se a natureza quisesse que a gente voasse, teria nos feito todos com asas. E bebi café, e comi chocolate, o que piorou um bocado a sensação no meu estômago.

Na hora de me despedir, um abraço apertado na minha comitiva e o choro rolou solto. Estranho ficar tanto tempo sem as pessoas que mais amo nesse mundo – eu SEI que 3 meses passam voando, mas é minha primeira vez, e eu nunca estive totalmente sozinha na minha vida. A partir de momento que eu passasse pelo portão de embarque, seria tudo novidade, e isso era um pouquinho assustador.

Acabou que fiz tudo direitinho, e até entrar no avião parecia que eu tinha feito isso minha vida inteira. Mas foi só até o avião ligar as turbinas. Vocês acham que entrei em pânico? Nem um pouco. Tava tão calma que me espantei. E quando o avião começou a subir... Eu não sei nem como começar a descrever o que senti. O dia estava lindo: o céu mais azul que vocês possam imaginar, com nuvens branquinhas, parecendo algodão-doce, cobrindo a paisagem, o sol se pondo num dourado inacreditável, e sei que tudo isso é clichê, e talvez muito batido pra quem de vocês tenha o hábito de voar, mas a questão é que quando dei por mim as lágrimas estavam rolando. Eu só conseguia pensar que meus pais tinham que estar ali pra ver aquilo também.

Fui num avião pequenino, eu que odeio andar de van porque sinto claustrofobia, mas que me importava se não tinha espaço pra esticar as pernas? A única coisa que me deixava doente naquela hora era ter esquecido a máquina dentro da bolsa de mão e não ter como tirar fotos daquela vista maravilhosa. Uma pena. Um céu perfeito.

Por sorte o lugar ao meu lado estava vago, e não tinha ninguém me incomodando. Fiquei acompanhando o céu durante muito tempo (não sei se vocês sabem, mas sou uma nuvem person), só parei pra prestar atenção na demonstração de segurança que as aeromoças estavam fazendo. Não prestei muita atenção na explicação em si porque, vamos combinar, de que adianta saber colocar um colete num avião em vias de se espatifar no chão? , mas foquei na cara de tédio das aeromoças, impagável.

Logo chegou a comida (achei que não estava com fome, mas acabei comendo o macarrão e o folheado doce, mas só bebi água). Não conseguia entender absolutamente nada do que as aeromoças argentinas falavam em espanhol, e fiquei esperando que repetissem em inglês, mas elas não fizeram isso. Bom, pelo menos me pareceu que não, a língua que elas usaram mais soava como russo, ou norueguês, de repente. Sei lá.

Mas aí escureceu completamente, e eu logo logo estava entendiada. Ninguém pra conversar, minha Vogue de janeiro lida de trás pra frente, e o barulho dos adolescentes nos bancos da frente começando a me incomodar. Foi quando a aeromoça anunciou que estaríamos entrando numa zona de turbulência, um de meus piores pesadelos ever. E vocês acham que senti medo? Naquela hora eu tava era louca pra ver como era. E, dali em diante, toda hora que me sentia entendiada ficava torcendo pra ter uma turbulência, pra rolar alguma emoção.

Aí chegou a hora de pousar. Me apaixonei por Buenos Aires vista do alto, de noite. Lindo. Chocante de lindo. Estava louca pra ver como o avião pousava, e foi muito legal (tenham paciência com essa marinheira de primeira viagem, please). Sem saber o que fazer, pra onde ir, fui seguindo a boiada.

O aeroporto era estranho, filas imensas esperando pros empregados revirarem as bagagens de mão, tudo muito desorganizado. Mas logo chegou a hora da segunda parte da viagem. E isso eu conto pra vocês a seguir...

10 comentários:

Renata disse...

ana, li seu comentario sobre o tum-tum e chorei chorei chorei por causa da minha hannah.

comigo e a mesma coisa. e a saudade que eu nao tenho como matar. nao poder abracar minha mae, com quem eu posso falar por telefone, internet, mandar fotos, e muito diferente de nao poder abracar minha gordinha.

eu tento nao pensar muito nisso, porque toda vez que penso e uma choradeira sem fim.

agora mesmo f. veio da outra sala ver se eu estava bem, porque eu tava aqui solucando olhando pras fotos dela.

como pode, ne?

estou adorando acompanhar sua viagem!

Cinthya Rachel disse...

feliiiiiiiiiiiiiiiiz que vc voltou gata! por favor, aperte um koala!!!!!!!!!!!

Ana disse...

Ai, Renata, e eu chorei quando li o que vc escreveu agora! rs Só quem ama muito um pet sabe o que a gente sente nessa hora...

Cinthya, coisa linda, podexá! Semana que vem vai ter foto de coalinha por aqui!

Renata disse...

Olha, eu to adorando acompanhar cada detalhe, e o fato de ser marinheira de primeira viagem e que faz sua hstória ser mais interessante...

além do fato de ser ser vc, né bela?

olha, parece uma bobeira tão grande, mas eu nunca passei por uma experiência como essa, assim como vc nunca tinha passado [pasme, uma English teacher que nunca pisou nem no Paraguay] e eu adoro acompanhar as viagens das pessoas que eu conheço, sabe?

Adoooro!E qdo li do Tum Tum, corri dar um beijo na minha Babi, pq eu sei como eles são tudo na vida da gente...

A Jana e o Ti disse...

tô adorando! próximo capítulo, please? e fotos? posta fotos!

PS: eu tenho passado madrugadas inteiras olhando destinos de viagens. Mas é pra lua de mel! weeeeeeee! Agora vai sair mesmo! De verdade! Weeeeeeee! Só que é praqui dentro mesmo, no Nordeste, em algum bangalô perdido em alguma praia maravilhosa...

Ana disse...

Rê, eu já achei que dava pra trabalhar sem vivenciar a cultura da língua que a gente ensina, mas hoje acho isso impossível. Enquanto não for pra França, não me imagino mais numa sala de aula. Agora então, que finalmente tive uma experiência de viagem, acredito mais ainda nisso. Eu posso traçar com vc vários caminhos pra se passear em Paris, juro, mas a questão é que nunca pisei lá. Não dá pra passar experiência dessa forma. Por isso, sister, te digo: junta um dindim e viaja, nem que seja por uma semana! Vc vai entender o que eu estou falando. E vou te contar cada coisinha que acontecer comigo, pode deixar! Já pensou vc aqui comigo? Duas marinheiras de primeira viagem? Seria tão bom ter uma intérprete...

Jana, maltrata mesmo, vai! rs Posso te dar uma dica? Tem umas praias relativamente baratas em Alagoas. E acho que não deve ter litoral mais lindo que o de lá! Tenho uma conhecida que vai sempre pra um lugar chamado Maragogi. Quanto às fotos, já tirei algumas, vou postar aos poucos. Ainda não fui na cidade pq o tempo tava péssimo nesse fim de semana. Vai ter que ficar pro próximo...

Marion disse...

Ana, adorei este post! Ri com seus comentários! Avião não é um meio de trasnporte normal???!!! Mas você tem razão , é estranho pensar que aquele troço enorme voa!
Sabe, eu entendo o seu entusiasmos em viajar de avião. Eu viajo de avião desde de bebezinho, tanto que nem lembro a primeira vez que voei. Mas fico entuasiasmada toda vez que viajo e faço questão de sentar na janelinha. Pareço criança.
Espero que nunca você perca o entusiasmo e que viaje muito de avião!
Estou esperando ansiosa pelo relato do restante da viagem!

Beijos

Ana disse...

Marion, querida, normal não é, mas é bããããããooooooo... Beijoca, querida! ps: Tô só terminando de me organizar aqui pra fazer um link puxando pro blog de vcs, pra facilitar minhas visitas!

Renata disse...

Tô adorando seus relatos de viagem.

Eu nunca consigo me sentir confortável viajando de avião. E faço questão da janela.

Imagino a saudade do Tum-Tum. Esses bichinhos nos transformam, não é mesmo?

Beijo.

Ana disse...

Baunilha, não sei se volto de janela, pq não sei como são as poltronas da classe econômica (do Rio até Buenos Aires foi terrível). Bom te ver aqui!